Ícones: Objetos Religiosos E, Ao Mesmo Tempo, Objetos De Arte Que Os Ortodoxos Penduram Nas Salas De Estar (La Vanguardia, Espanha)

Ícones: Objetos Religiosos E, Ao Mesmo Tempo, Objetos De Arte Que Os Ortodoxos Penduram Nas Salas De Estar (La Vanguardia, Espanha)
Ícones: Objetos Religiosos E, Ao Mesmo Tempo, Objetos De Arte Que Os Ortodoxos Penduram Nas Salas De Estar (La Vanguardia, Espanha)

Vídeo: Ícones: Objetos Religiosos E, Ao Mesmo Tempo, Objetos De Arte Que Os Ortodoxos Penduram Nas Salas De Estar (La Vanguardia, Espanha)

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Anonim

Em tempos de incerteza, tendemos a buscar consolo na espiritualidade. Os cristãos ortodoxos entendem isso muito bem e, portanto, os ícones são sempre pendurados nas paredes de suas casas para que eles possam orar. Alguns os organizam de forma que olhem para o leste ao orar. Para os verdadeiros ortodoxos, os ícones não são apenas um elemento decorativo, como na Europa Ocidental, onde, devido ao seu alto custo, passam da categoria de um objeto religioso para uma simples decoração de casa.

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Para se ter certeza disso, basta em qualquer sábado ou domingo de manhã passear pelo popular mercado Izmailovsky de Moscou, onde, em condições normais, os turistas barganham ícones pintados à mão para levá-los como lembrança. Muitos habitantes locais compram as mesmas imagens de santos com reverência.

A principal diferença entre ícones e pinturas religiosas é que as primeiras, embora sejam obras de arte, são ao mesmo tempo um objeto sagrado para o crente. Os ortodoxos acreditam que os ícones têm um poder especial para facilitar a oração, ou seja, eles não são apenas um objeto artístico para contemplação. Os ortodoxos acreditam que a energia dos ícones está contida em uma imagem consagrada, na qual o próprio santo está presente. Isso é possível graças à bênção do ícone. Quando é consagrado, uma conexão é estabelecida entre o santo retratado nele e seu rosto. Em outras palavras, o ícone consagrado em si já carrega um milagre.

Objeto milagroso

Acredita-se que os primeiros ícones foram pintados no Egito Antigo na forma de retratos funerários do período helenístico. Bizâncio, que absorveu as tradições da arte helenística (antiguidade tardia) e algumas práticas orientais, tornou-se o berço da pintura de ícones cristã. Do território da Turquia moderna, a arte da pintura de ícones se espalhou para os países dos Balcãs e, em seguida, para o território da Rússia moderna, onde no século 15 esse tipo de arte alcançou grande popularidade em Moscou e Novgorod.

Os pintores mais proeminentes da Rússia Antiga foram Teófanes, o Grego e Andrei Rublev. Suas obras são consideradas o auge da arte medieval russa e estão entre os objetos mais valiosos da famosa Galeria Tretyakov, em Moscou. É notável que mesmo naquela época os nomes desses pintores de ícones foram preservados. Na Europa Ocidental, a arte permaneceu anônima por muito tempo, e somente o Renascimento trouxe consigo uma reavaliação da figura do artista. Somente durante o Renascimento na Itália e na França os artistas começaram a assinar com precisão suas obras religiosas, e então a pintura secular apareceu na Europa Ocidental, para a qual o nome do artista foi de fundamental importância.

No século 18, o ícone entrou em decadência durante o reinado do czar Pedro I, que amava os costumes ocidentais e a pintura realista que retratava a vida como ela é. Mas, apesar da posição do imperador, a tradição da pintura de ícones estava tão enraizada na Rússia que sobreviveu não apenas ao Iluminismo e ao século 19, mas também aos tempos soviéticos, quando qualquer religião era perseguida.

A estúpida oposição entre ciência e religião na Rússia enfraqueceu apenas no final do século XX. Mas a pintura de ícones conseguiu viver até esse momento, o que lhe deu uma chance de renascimento. Em muitos aspectos, a pintura de ícones sobreviveu graças à continuação dessa tradição nos poucos mosteiros que sobreviveram na Rússia até o final do século XX. E hoje muitos povos da Europa Oriental encontram nos ícones russos uma forma alternativa de visão artística do mundo.

Arte secreta

Entrar em uma Igreja Ortodoxa é uma experiência verdadeiramente única. Seu interior é decorado com afrescos e inúmeros ícones pendurados nas paredes ou compondo a iconostase - grande divisória que separa a parte principal do templo do altar. Estátuas e esculturas, ao contrário das igrejas ocidentais, não são encontradas nas igrejas ortodoxas ou são muito raras. Não há bancos ou cadeiras para os paroquianos, eles ficam de pé durante todo o serviço - uma espécie de festa em que os padres, o coro e às vezes os paroquianos cantam juntos. A própria palavra "Ortodoxia", que vem de "orto", "recto" e "doxa", que significa "celebração correta".

A imprecisão das imagens nos ícones e o fato de os rostos pintados parecerem antigos mesmo no caso de ícones relativamente novos - tudo isso é explicado pelo simbolismo dessa arte. As imagens contidas na Igreja Ortodoxa não são realistas, elas retratam um mundo ideal. Segundo a lenda, se Deus não assumisse a forma de um homem na figura de Cristo, então, segundo a Bíblia, seria impossível desenhar um ícone. A velha tradição judaica, que proibia retratar pessoas, também interferia. Até o sétimo Concílio Ecumênico, realizado no século 7, o filho de Deus só poderia ser representado simbolicamente, na forma de um cordeiro.

Mais tarde, as disputas teológicas terminaram com uma grande divisão entre as igrejas ocidental e oriental (ortodoxa). O ícone foi fixado como um atributo chave da Ortodoxia.

Tendências artísticas

Os ícones mais frequentemente representam o rosto de Jesus, e esta imagem é inspirada em imagens pintadas durante a vida do Salvador: por exemplo, a imagem de Jesus, escrita por instruções do Rei Agbar, que foi curado, que sofria de lepra. Ou o famoso Salvador Não Feito por Mãos - a impressão do rosto de Cristo no lenço de cabeça de uma mulher crente chamada Verônica. Segundo a lenda, Cristo deixou esta imagem quando trouxe este lenço ao rosto no caminho para o Calvário. Essa crença foi muito importante para os pintores de ícones: se Cristo nos deixou sua imagem, o artista pode tentar copiá-la para que assim possamos nos aproximar dele.

Outro tema tradicional na pintura de ícones é a Mãe de Deus - uma grande e gentil mulher que suportou Deus em seu ventre. Segundo a lenda, o nascimento de Deus de uma mulher terrestre através da imaculada concepção tornou-se um sinal do alto, a graça do céu para toda a humanidade. E então este é outro tema na pintura de ícones. Dizem que o primeiro ícone foi escrito por São Lucas, um dos quatro evangelistas, ou seja, os autores dos livros do Novo Testamento e discípulos pessoais de Cristo. Por conhecer pessoalmente a Virgem Maria, ele nos deixou a imagem de sua vida.

Como escrever um ícone

Pintar um ícone pode parecer um processo difícil, mas igrejas ortodoxas como a Igreja da Intercessão do Santíssimo Theotokos, localizada na Rua Aragão, em Barcelona, costumam oferecer cursos de pintura de ícones. O primeiro passo para fazer um ícone é preparar uma placa de madeira com levkas aplicadas a ela. Levkas é uma terra branca especial, que é preparada a partir do giz, triturada até virar pó e misturada com uma "cola", preferencialmente feita de componentes naturais (animais ou vegetais).

Em seguida, a tinta (têmpera) é preparada e aplicada a esse primer especial chamado levkas. Ao mesmo tempo, as regras são observadas: os rostos sempre têm um nariz muito fino e alongado, as orelhas sempre se ajustam bem à cabeça, indicando a necessidade de ouvir a voz de Deus dentro de nós. Os olhos são sempre grandes e profundos.

A pintura de ícones se situa entre a pintura arcaica e a vanguarda, pois a Ortodoxia não usa as regras de perspectiva estabelecidas no Renascimento, com uma perspectiva direta que nos leva a fundo no quadro. Em vez disso, os ícones usam perspectiva reversa, ou seja, todas as linhas são direcionadas não para o horizonte do ícone, mas para a pessoa que o está olhando. A ideia é que o próprio espectador faça parte do ícone e, em vez de olhar para ele, “viva” dentro dele. Como parte da imagem, parece que nos encontramos em outro mundo - por exemplo, no paraíso. Portanto, o ícone nunca retrata sombras, pois a luz divina vem de dentro da imagem, do Éden. Para simular isso, são usados ouro e azul, que simbolizam a luz divina e a eternidade.

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